A História de um país, de uma nação, é a História das suas gentes. O indivíduo é o núcleo central de qualquer sociedade estruturada.

A investigação e a narrativa históricas privilegiavam os heróis, "aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando". Mas a realidade é que todos os portugueses contribuíram com a sua existência para a construção da nossa História. Por isso, na esteira da historiografia moderna, entendemos que se devem conhecer todos: os heróis, os Santos, os grandes e os pequenos, os bons e os vilãos, os mais e os menos conhecidos que, em conjunto, construíram Portugal.

Temos condições provavelmente únicas no mundo para fazer essa reconstituição. Para além de outras fontes que nos permitem recuar no tempo, os livros das igrejas que desde o Concilio de Trento (1546) com carácter obrigatório e em inúmeros casos, antes mesmo dessa data (de 1529 em diante), registam todos os baptismos, casamentos e óbitos, asseguram, com segurança, a construção deste trabalho que pretende registar todos nós, portugueses.

Estes registos paroquiais constituem uma fonte inesgotável de informação histórica mas, pela sua dimensão, têm sido , até hoje, muito pouco explorados pelos investigadores. Trata-se, em todo o caso, de um acervo que está bem conservado em Portugal, da Torre do Tombo aos arquivos distritais e regionais. Desde logo porque, ao contrário do que se passou no centro da Europa, não tivemos em território nacional muitas vicissitudes geradoras de destruição. Salvo o terramoto de 1755, que destruiu irremediavelmente algumas igrejas paroquiais e os seus cartórios, sobretudo em Lisboa, e, mais tarde, as invasões francesas que afectaram especialmente os distritos de Leiria e de Santarém, tudo o mais subsiste, regra geral, em bom estado de conservação. Recentemente, o projecto Digitarq da Direcção-Geral de Arquivos, ao pretender colocar on line todos estes livros, facilita-nos esta tarefa.

Pretendemos reconstruir a teia que une Portugal e os portugueses. Começamos por elencá-los, saber quem foram para entender quem são. Queremos criar este novo projecto que tem como fonte primordial os registos paroquiais portugueses, tão ricos em informação pessoal, laboral, topográfica, social e familiar.

É um projecto inovador e inédito em todo o mundo. Trata-se de uma obra monumental que permitirá, com rigor científico, conhecer desde logo, a realidade da textura do país entre os séculos XVI e XX: as taxas de natalidade e morte, os índices de fecundidade e de esperança de vida, a literacia e a estrutura profissional, as migrações internas, a origem e quantificação das imigrações de estrangeiros e suas nacionalidades, a toponímia, etc.. A importância deste trabalho reflectir-se-á em áreas diversas como a Sociologia, a Demografia, a Genealogia, a História Militar, Antropologia, Geografia, História Local, etc.

E porque, exactamente em Cascais, "tudo começa nas pessoas", é através delas - as que aqui nasceram, casaram, viveram e morreram e todas as que, vindas de fora, se lhes juntaram - que podemos conhecer a história do Concelho ao longo dos últimos cinco séculos. O que fizeram das suas vidas. Onde e como viveram o seu dia-a-dia. Os lugares, as terras, as ruas, becos e travessas e os nomes que lhes deram. Os trabalhos, artes e ofícios em que se ocuparam. As instituições, as indústrias e as comércios que criaram.Falamos de todos, sem excepção: dos mais simples aos mais famosos. Com o projecto Nós, Casca[l]enses queremos perpetuar a memória de todos. Porque todos, sem excepção, fizeram o Concelho que somos hoje. Porque, nunca é demais repetir, tudo começa nas pessoas.